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Directora Regional das Comunidades, Açores

 

Entrevista com Maria da Graça Borges Castanho,
Directora Regional das Comunidades, Açores


Fotos: GACS/Governo Regional dos Açores
Entrevista conduzida por: Kitty Bale

Ponta Delgada, Açores, Março 2011


 

Maria da Graça Borges Castanho -
Directora Regional das Comunidades - Açores

Na Diáspora Lusa, Graça Castanho já é um rosto familiar, conhecida pelo seu desempenho na área do ensino da língua portuguesa e pelos seus livros de literatura infanto-juvenil. Tomou posse como Directora Regional das Comunidades em Outubro 2010, substituindo Rita Machado Dias.

Acérrima defensora do ensino da língua portuguesa no país e no estrangeiro, chegou à Direcção Regional das Comunidades (DRC) com um profundo conhecimento da Diáspora quer no terreno, quer no meio académico. Graça Castanho detém um pós-doutoramento realizado na Harvard University, um doutoramento da Universidade do Minho, um mestrado da Lesley University em Cambridge, MA e uma licenciatura em Línguas Modernas Português-Inglês da Universidade dos Açores. Ao longo dos anos, ocupou vários cargos ligados ao Ensino Português que a levaram a Moçambique, Bermudas, EUA e Canadá entre outros.

Visiting post-doctoral scholar na Harvard Graduate School of Education, palestrante, formadora de docentes, orientadora de teses de mestrado e doutoramento, docente universitária, Graça Castanho também foi conselheira para o Ensino do Português nos EUA e na Bermuda na Embaixada de Portugal em Washington DC.

Numa entrevista exclusiva para o portal Adiaspora.com a nova Directora Regional das Comunidades falou com a jornalista Kitty Bale sobre o papel e as responsabilidades da DRC para com os emigrantes.

Havendo muito mais açorianos espalhados pelo mundo do que no arquipélago, o cargo de Directora Regional das Comunidades é sem dúvida uma responsabilidade de peso. Quantos são os emigrantes e qual a sua repartição geográfica?

R: É corrente dizer-se que existem mais açorianos a viver no estrangeiro do que na Região - açorianos e seus descendentes. Estes englobam várias gerações. Alvitra-se que exista perto de um milhão. As gentes açorianas emigradas estabeleceram-se um pouco por todo o mundo. Porém, as comunidades numericamente mais significativas estão radicadas nas costas Oeste e Leste dos Estados Unidos da América, no Canadá, desde Toronto a Vancouver, na Bermuda, Havai, no Brasil, com grande predominância nos estados do Rio de Janeiro, S. Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Também existe uma comunidade antiga de descendentes de açorianos no Uruguai.

É óbvio que esta dispersão geográfica dificulta o desempenho das funções da Directora; no entanto, lança desafios que são muito estimulantes.

P: Em geral, qual o envolvimento do Governo Regional dos Açores junto das comunidades?

R: Em termos de comunidades, o envolvimento do Governo Regional dos Açores (GRA) concretiza-se junto de diversas populações-alvo, nomeadamente as comunidades emigrantes, imigrantes e os regressados (os que voltam voluntariamente e os que chegam compulsivamente). Neste sentido, a DRC procura valorizar e promover todos estes indivíduos quer se encontrem radicados no estrangeiro quer residam nos Açores.

Relativamente aos emigrantes, realizamos um trabalho de promoção e valorização das comunidades junto de instâncias/instituições dos países de acolhimento, para que lhes seja reconhecido o seu real valor e prestígio e a sua importância como parte integrante do progresso e desenvolvimento das sociedades onde se encontram inseridas. Para além deste aspecto, o GRA tem procurado, através da Direcção Regional das Comunidades incentivar as gentes açorianas emigradas a participarem mais activamente na vida política dos países onde estão radicadas por forma a melhor defenderem os seus direitos e interesses.

No que diz respeito aos imigrantes, a DRC trabalha no sentido de uma cada vez maior integração dos mesmos no tecido social açoriano, valorizando o seu potencial no mercado de trabalho, bem como o património cultural de que são portadores. Nesta área, tanto apoiamos as associações que trabalham com os imigrantes, como também oferecemos atendimento personalizado a estes indivíduos e a todos os outros que constituem a nossa população.

Os serviços oferecidos aos regressados são adaptados as dois grupos que compõem esta população. Junto dos regressados voluntários oferecemos atendimento ao público no sentido de os ajudar a preencher documentos, tratar de pensões, reformas, seguros, etc. Com os regressados compulsivos, contamos com uma Rede Internacional de Organizações de Serviço Social que, nos EUA, Canadá e nas ilhas dos Açores, trabalham em conjunto para garantir a integração dos deportados nas ilhas.

P: Mais concretamente, quais são as responsabilidades do Governo Regional perante os emigrantes?

R: Promover a sua integração, a todos os níveis, nas comunidades de acolhimento e sensibilizá-los para a preservação dos valores patrimoniais e culturais que lhes conferem uma identidade própria. Foi feito um trabalho muito extensivo a nível cultural, durante décadas.

Hoje, dada a conjuntura actual, há que dedicar mais tempo às questões sociais, apetrechar as comunidades com instrumentos que lhes permitam trabalhar no sentido da integração nos países de acolhimento, ajudar as gerações mais jovens a prosseguir estudos, a par da necessidade de os incentivar a manterem ligações privilegiadas com os Açores e com o património cultural comum.

P: Para os emigrantes, manter uma ligação com os Açores é muitas vezes uma questão de dinheiro. Há muito tempo que reclamam passagens com tarifas promocionais entre a América do Norte e o arquipélago. Considera isso um direito? Sendo a SATA uma empresa pública, será que o Governo Regional pode - e vai - intervir neste assunto?

R: Todos as pessoas têm direito a lutar por aquilo que lhes confere um nível de vida melhor. O Governo dos Açores, como é seu apanágio, tem pautado, nesta linha, a sua governação por forma a servir os interesses dos nossos emigrantes. Portanto, estou convicta de que resolverá, a contento das partes envolvidas, este assunto.

P: A ligação com os Açores tem também a ver com a língua portuguesa. O que faz o Governo Regional para apoiar o ensino da língua portuguesa nas comunidades?

R: Embora o ensino da língua portuguesa não seja da responsabilidade do Governo dos Açores, este tem contribuído para a sua preservação e promoção nas comunidades, através do envio de material diversificado para escolas, universidades e instituições onde o mesmo é leccionado. O apoio a actividades que promovem o ensino da língua portuguesa também tem sido uma constante: colóquios, acções de formação, promoção de intercâmbios, etc.

Neste momento, estamos a lançar nas comunidades um programa novo intitulado Ao Colo da Língua Portuguesa que prevê a oferta de um kit de livros infantis às famílias com crianças, junto das quais é urgente promover o interesse pela língua lusa, o 3º idioma europeu mais falado no mundo. É muito importante que as famílias portuguesas percebam que o domínio do Português constitui uma mais valia para as gerações mais novas.

P: Fala-se muito do Novo Acordo Ortográfico que entrou em vigor em Janeiro 2009 e do período de transição para adoptar a nova grafia que decorre até 2015. Nas Comunidades como no território nacional, há implicações financeiras em relação à compra de materiais didácticos. Existem alguns apoios disponíveis através da DRC?

R: Como acima referi esta é uma matéria que diz respeito ao governo central. No entanto, o Governo dos Açores, na medida das suas possibilidades, poderá, eventualmente, colmatar, pontualmente, lacunas que impeçam algumas instituições açorianas de realizar o seu trabalho, nesta área, por falta de meios adequados.

Convém recordar que haverá um período de adaptação ao Novo Acordo, pelo que não há necessidade de as comunidades entraram em pânico, substituindo os manuais ou outros recursos de um dia para o outro.

P: Hoje em dia, são também muitos os emigrantes de segunda e terceira geração que falam pouco - ou até mesmo nenhum - Português. Neste caso, quais as iniciativas que o Governo Regional apoia para ajudá-los a manter uma ligação com o arquipélago em outras línguas?

R: É preciso promover uma campanha de marketing massiva sobre a importância do Português e explicar que a língua portuguesa, hoje em dia, tem dimensão mundial, é património da humanidade e abre portas para um futuro promissor às novas gerações. Há, também, que investir em materiais didácticos culturalmente relevantes para os alunos das diferentes comunidades e na formação da classe docente. Logicamente que o Governo dos Açores não pode fazer todo este trabalho.

Como já foi referido essas são responsabilidades acometidas ao Governo Central. Apesar disto, o Governo dos Açores, através da DRC, muito tem feito neste sentido, oferecendo livros, facilitando visitas aos Açores de alunos e professores, durante as quais são feitas aprendizagens de reconhecido valor.

P: O assunto incómodo dos açorianos sem papéis,  deportados pelos países de acolhimento, surge de vez em quando na imprensa açoriana. Em muitos lugares do arquipélago, existe o preconceito - errado - que foram todos deportados por ter cometido crimes. Isto não ajuda a sua reinserção na sociedade açoriana. Por um lado, o que faz o Governo Regional para informar melhor a população dos Açores e por outro, qual a ajuda proporcionada pelo Governo Regional aos deportados sem papéis?

R: Grande parte do trabalho que estamos a realizar neste momento prende-se com as questões da deportação. Se é bem verdade que não podemos alterar as regras e leis dos países de acolhimento no que diz respeito à deportação, não podemos esquecer que é possível trabalhar com as comunidades no sentido de estas se organizarem, com vista a minimizarem os efeitos da deportação, sem esquecerem que têm de criar condições para a naturalização e para resolverem o problema dos indocumentados.

Para além do programa Regressos que conta com o apoio da Rede Internacional de Organizações de Serviço Social, vamos lançar, em breve, um novo Programa intitulado LEGAL – Legalization Effort – Government of the Azores Logistics. Este programa destina-se aos emigrantes que precisam de se naturalizar ou encontrar soluções para o seu estatuto de ilegais.

P: Nas Comunidades existe uma vida associativa rica e dinâmica representada pelas Casas dos Açores e não só. Qual o envolvimento do Governo Regional nas Casas dos Açores e junto das outras associações e clubes?

R: O Governo dos Açores interage, por diversas formas e com diferentes meios, junto das instituições das comunidades. Por um lado, tem disponibilizado apoios com vista à promoção e realização de iniciativas que visam a salvaguarda e divulgação dos nossos valores patrimoniais e culturais e, por outro, tem promovido a cooperação técnica, a qual visa a execução de projectos que valorizam as comunidades e prestigiam a Região.

Sempre que possível, iremos trabalhar de perto com as Casas dos Açores e muitas outras associações, tornando-as verdadeiros espaços agregadores da açorianidade, ao serviço da manutenção do património cultural, e das reais necessidades das nossas comunidades, a nível social, político, educativo, etc.

P: Além dos emigrantes, existe também uma pequena comunidade de imigrantes nos Açores. Quantas pessoas são? De onde vêm? Quais as medidas tomadas pelo Governo Regional para facilitar a integração dos imigrantes na sociedade açoriana?

R: Nos Açores existem, actualmente, cerca de 6 000 imigrantes, provenientes de 88 países. O Governo dos Açores tem procurado, através de variadas acções, promover uma eficaz integração de todos os imigrantes, por forma a atingirem os objectivos que os levaram a escolher a Região para realizarem os seus projectos de vida familiar e profissional.

A promoção da interculturalidade tem sido fundamental para aproximar os imigrantes das gentes açorianas e vice-versa. Neste sentido realizaram-se várias edições dos denominados “Cursos Livres para Imigrantes”, os Módulos de Formação sobre Educação Intercultural, a publicação do Guia do Imigrante nos idiomas russo e português, Contos de Lá, etc,. Estas iniciativas e outras afins contribuem para uma eficaz integração dos imigrantes e, consecutivamente, para o enriquecimento da Região como um espaço multicultural.

P: Tendo em conta o seu vasto currículo académico e o seu trabalho com as Comunidades ao longo da sua carreira, para si, ser Directora Regional das Comunidades é mais um emprego ou é uma missão?

É um trabalho com uma missão muito clara: colocar ao serviço das diferentes comunidades que sirvo os saberes e experiências acumulados ao longo da vida, em vários continentes, ora como docente, ora como estudante, investigadora, visitante, funcionária dos Ministérios da Educação e dos Negócios Estrangeiros.

P: Agora em 2011, faz 10 anos que o portal Adiaspora.com anda a divulgar a lusitanidade online e através de eventos culturais no estrangeiro e nos Açores criando ligações entre os lusófonos - e lusófilos - espalhados pelo mundo. Quer deixar uma mensagem para os utilizadores do portal?

R: O portal Adiaspora.com é, sem dúvida, uma referência na divulgação da Açorianidade, na sua dimensão internacional.

Aos seus utilizadores gostaria apenas de lhes dizer que aproveitem ao máximo, este poderoso meio de comunicação para se cultivarem e divulgarem os valores culturais que lhes conferem uma identidade própria.

 

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